Dos epitélio das vias aéreas aos alvéolos, veja como os tecidos especializados do sistema respiratório desempenham papéis essenciais na troca gasosa. Entenda cada detalhe sob a lente da histologia.
Epitélio das Vias Aéreas Superiores
Cavidade Nasal: Estrutura Histológica
A cavidade nasal é dividida em três regiões principais: vestíbulo, área respiratória e área olfatória. Todas são revestidas por mucosas, mas cada uma apresenta características histológicas distintas de acordo com sua função.
Vestíbulo Nasal
Localizado na porção mais anterior e dilatada da cavidade nasal, o vestíbulo é revestido por um epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado, apoiado sobre uma lâmina própria de tecido conjuntivo denso.
Essa região contém pelos (vibrissas) e glândulas sebáceas, que atuam como uma barreira física inicial, ajudando a reter partículas maiores presentes no ar inspirado.
Área Respiratória
Corresponde à maior parte da cavidade nasal. É revestida por um epitélio pseudoestratificado colunar ciliado com células caliciformes, especializadas na produção de muco.
- Função do muco: Aprisionar partículas inaladas (poeira, microrganismos, etc.).
- Função dos cílios: Mover o muco com as impurezas em direção à faringe, de onde será engolido ou eliminado.
A mucosa dessa região está apoiada sobre uma lâmina basal, abaixo da qual há uma lâmina própria fibrosa rica em glândulas seromucosas (mistas). Essas glândulas auxiliam na manutenção da umidade da mucosa, favorecendo a função respiratória e a proteção do epitélio.
Área Olfatória da Cavidade Nasal
A área olfatória está localizada no teto da cavidade nasal, bem como na porção superior das paredes laterais e do septo nasal. Essa região é responsável pela percepção dos odores e abriga um epitélio especializado conhecido como epitélio olfatório, de tipo pseudoestratificado colunar.
Esse epitélio é composto por três tipos principais de células:
- Células de sustentação: são células colunares com microvilos na superfície apical, que se projetam para dentro da camada de muco que recobre o epitélio. Auxiliam na sustentação estrutural e no metabolismo das células olfatórias.
- Células basais: pequenas, arredondadas ou cônicas, formam uma única camada localizada na base do epitélio. Funcionam como células-tronco, capazes de se diferenciar nos outros tipos celulares.
- Células olfatórias: são neurônios bipolares intercalados entre as células de sustentação. Possuem extremidades dilatadas das quais emergem cílios longos, imóveis, que funcionam como receptores olfativos.
Além das células, a secreção serosa das glândulas olfatórias (ou glândulas de Bowman) desempenha um papel fundamental: dissolver as moléculas odoríferas presentes no ar, permitindo que sejam detectadas pelas células olfatórias.
Nasofaringe
É a porção superior da faringe, situada atrás da cavidade nasal, separada incompletamente da orofaringe pelo palato mole. É revestida por epitélio respiratório, ou seja, epitélio pseudoestratificado colunar ciliado com células caliciformes, que mantém a mucosa umidificada e limpa.
Laringe
A laringe é um tubo irregular que conecta a faringe à traqueia, com paredes formadas por cartilagens irregulares unidas por tecido conjuntivo fibroelástico, que mantém a via aérea aberta. O revestimento epitelial varia conforme a região: Epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado está presente na face anterior e parte da face posterior da epiglote e nas pregas vocais verdadeiras, áreas sujeitas a atrito;
nas demais regiões, o epitélio é respiratório, do tipo pseudoestratificado colunar ciliado com células caliciformes.
Traqueia e Brônquios: Estrutura Histológica
A traqueia é um tubo condutor do sistema respiratório, com cerca de 10 a 13 cm de comprimento e aproximadamente 2,5 cm de diâmetro, que se estende da laringe até sua bifurcação nos brônquios principais (também chamados de primários), marcando o início do trato respiratório inferior. Estruturalmente, é composta por várias camadas organizadas funcionalmente. A parede traqueal é sustentada por 16 a 20 anéis incompletos de cartilagem hialina, dispostos em forma de “C”, com a abertura voltada para a região posterior, em contato com o esôfago. Essa abertura é fechada por tecido conjuntivo e feixes de músculo liso, inseridos no pericôndrio da cartilagem, formando o músculo traqueal.
Essa arquitetura fornece à traqueia rigidez e flexibilidade, impedindo o colapso do lúmen durante os ciclos respiratórios, ao mesmo tempo que permite sua compressão para aumento da pressão expiratória, especialmente durante o reflexo da tosse. Este reflexo é ativado por receptores sensoriais concentrados na parede dorsal da faringe e na bifurcação traqueal. Os ligamentos fibroelásticos que unem os extremos dos anéis cartilaginosos limitam a distensão excessiva da parede traqueal.
Internamente, a traqueia é revestida por epitélio respiratório pseudestratificado ciliado com abundantes células caliciformes mucosas, cuja secreção, combinada à das glândulas seromucosas (túbulo-acinosas mistas) da submucosa, forma uma camada mucosa que recobre o epitélio e é mobilizada em direção à faringe pelo batimento coordenado dos cílios. Abaixo do epitélio, a lâmina própria é composta por tecido conjuntivo frouxo rico em fibras elásticas, fundamental para a resiliência da mucosa. A porção mais externa da traqueia é formada por uma camada adventícia, que a ancora ao tecido conjuntivo dos órgãos adjacentes.

(Histologia Interativa. Unifal-MG, 2023)
A partir de sua bifurcação, a traqueia origina os dois brônquios principais, também chamados de extrapulmonares por ainda não estarem dentro do parênquima pulmonar. Esses brônquios mantêm uma estrutura histológica bastante semelhante à da traqueia, incluindo epitélio respiratório, presença de glândulas seromucosas, cartilagens hialinas em anel completo e camada adventícia.
Após penetrarem os pulmões, os brônquios principais ramificam-se em brônquios lobares (secundários) e, posteriormente, em brônquios segmentares (terciários). Nessa progressão, ocorrem alterações estruturais importantes. As cartilagens deixam de formar anéis e passam a ser placas irregulares de cartilagem hialina que circundam parcialmente a parede brônquica. O músculo liso, disposto em feixes espiralados ao redor da mucosa, forma uma camada contínua cuja contração, especialmente após a morte, é responsável pelas pregas longitudinais da mucosa frequentemente vistas em preparações histológicas.
O epitélio permanece do tipo respiratório nos brônquios, repousando sobre uma lâmina própria bem desenvolvida. Um componente notável da parede brônquica é a presença de células neuroendócrinas pulmonares, dispostas isoladamente ou reunidas em corpos neuroepiteliais com 80 a 100 células, que atuam como sensores de gases (O₂ e CO₂) e são inervadas por ramos do nervo vago, participando da regulação da atividade respiratória local.
Externo à camada de músculo liso, encontram-se o tecido conjuntivo peribrônquico, as placas de cartilagem, as glândulas seromucosas e, finalmente, a adventícia, rica em fibras elásticas e frequentemente infiltrada por acúmulos linfocitários, que refletem o envolvimento imune constante das vias aéreas.

(Histologia Interativa. Unifal-MG, 2018)
A principal diferença entre traqueia e brônquios está na progressiva adaptação funcional que ocorre à medida que o ar se aproxima do parênquima pulmonar. A traqueia é uma estrutura única, extrapulmonar, cuja função é exclusivamente condutiva, enquanto os brônquios fazem parte de uma rede ramificada, intrapulmonar, que além de conduzir o ar, regula seu fluxo por meio da contração da musculatura lisa ao redor da via aérea.
No caso da traqueia, o músculo liso encontra-se restrito à parede posterior, fechando os anéis cartilaginosos incompletos. Já nos brônquios, o músculo liso forma uma camada contínua e circunferencial, permitindo controle ativo sobre o diâmetro brônquico. Além disso, os brônquios apresentam placas de cartilagem irregulares em vez de anéis e integram elementos sensoriais e imunes ausentes na traqueia. Essa transição também impõe modificações no epitélio, que se torna progressivamente mais simples.

(UCHÔA; JOSÉ CARNEIRO, 2008)
Bronquíolos e Especializações
Bronquíolos
Os bronquíolos são ramificações intralobulares originadas de divisões sucessivas dos brônquios, com diâmetro inferior a 1 mm. Diferentemente dos brônquios, os bronquíolos não possuem cartilagem, glândulas ou nódulos linfáticos em sua constituição.
O epitélio de revestimento varia ao longo do trajeto: inicia-se como cilíndrico simples ciliado, passando gradualmente para cúbico simples, podendo ou não apresentar cílios na porção final. O número de células caliciformes diminui progressivamente nos bronquíolos e pode desaparecer completamente nos segmentos terminais.
A mucosa é composta por uma lâmina própria delgada, rica em fibras elásticas. Em seguida, há uma camada de músculo liso bem desenvolvida, cujas células se entrelaçam com fibras elásticas. Essa musculatura é relativamente mais espessa do que a observada nos brônquios e tem papel importante na regulação do fluxo de ar — sendo o principal local de broncoconstrição em doenças como a asma.
Cada bronquíolo penetra em um lóbulo pulmonar, onde se ramifica e origina de cinco a sete bronquíolos terminais — as últimas porções da árvore brônquica que não realizam trocas gasosas. Eles possuem paredes mais delgadas e, além de células ciliadas, apresentam as chamadas células club (anteriormente conhecidas como células de Clara). Essas células são não ciliadas, possuem funções secretoras (produzindo componentes surfactantes que recobrem o epitélio bronquiolar), desintoxicantes (graças à presença de enzimas do citocromo P450), e também atuam como células-tronco epiteliais, contribuindo para a regeneração local.

Corte histológico de pulmão. Médio aumento. HE. Bronquíolo terminal, notar o epitélio de revestimento do tipo cúbico simples. / Corte histológico de pulmão. Maior aumento. HE. Notar as Células da Clara, que sintetizam a substância surfactante a nível de bronquíolos.
Os bronquíolos respiratórios, originados dos bronquíolos terminais, marcam a transição entre a porção condutora e a porção respiratória do sistema respiratório. São tubos curtos, às vezes ramificados, revestidos por epitélio cúbico simples, que passa a epitélio pavimentoso nas áreas de alvéolos. Seus segmentos iniciais ainda podem conter cílios e células club. As paredes dos bronquíolos respiratórios apresentam alvéolos, estruturas saculiformes revestidas por epitélio simples pavimentoso e especializadas em trocas gasosas.

Corte histológico de pulmão. Maior aumento.HE. Bronquíolo respiratório, notar o epitélio de revestimento que se inicia cúbico simples e termina em estruturas alveolares, com o epitélio simples pavimentoso.
Ductos Alveolares
Esses ductos iniciam efetivamente a porção respiratória. São formados por ramificação dos bronquíolos respiratórios e apresentam-se como condutos longos e tortuosos. A característica principal desse segmento é apresentar inúmeros alvéolos e sacos alveolares em suas paredes. O revestimento dos ductos alveolares é epitélio do tipo pavimentoso simples. Esses ductos são as últimas porções a apresentar em sua estrutura células musculares lisas.
Alvéolos Pulmonares e Barreira Hematogásica
(Pneumócitos tipo I e II (funções e morfologia); Macrófagos alveolares; Estrutura da parede alveolar e capilares; Composição da barreira hematogásica; Papel do surfactante pulmonar.) Trazer imagens.
Os alvéolos são responsáveis por proporcionar a difusão dos gases do pulmão para os capilares sanguíneos presentes no sistema respiratório. Justamente, para ocasionar a difusão simples, a parede alveolar é fina, sendo o conjunto deles responsável por constituir o parênquima do pulmão. Já os sacos alveolares são delimitações mais amplas, nas quais os alvéolos se abrem.

(USP, 2025)
Como já foi dito, os alvéolos são formados por uma delgada parede de tecido conjuntivo, sendo sua matriz extracelular formada por:
- Fibras elásticas. (distendem durante a inspiração e contraem-se passivamente na expiração)
- Fibras reticulares. (estabilizam as paredes alveolares)
- Substância fundamental.
Além disso, existem células, tais como fibroblastos e leucócitos, mastócitos e macrófagos. Outro componente da parede é a rede de capilares sanguíneos.
Os alvéolos são revestidos por células epiteliais que entram em contato com o lúmen deles:
- Pneumócitos tipo I – trata-se de uma célula pavimentosa cujo citoplasma é bastante delgado. Sendo assim, a sua principal função é constituir uma barreira, mas que possibilite, de maneira facilitada, as trocas de gases entre o lúmen alveolar e o centro da parede alveolar, onde estão localizados os capilares.
- Pneumócitos tipo II – trata-se de células arredondadas com núcleo esférico e citoplasma vacuolizado. Sendo assim, elas produzem uma secreção chamada de surfactante pulmonar, que é responsável por revestir a superfície alveolar e reduzir a tensão superficial, consequentemente evitando o colapso do alvéolo durante a inspiração.
Ainda existem, no lúmen dos alvéolos e nas suas paredes, os macrófagos, necessários para fagocitose, e as células dendríticas, importantes para a apresentação de antígenos a linfócitos T. Os macrófagos alveolares são chamados de células da poeira, pois seu citoplasma contém fagossomos com partículas de carbono ou outras inaladas.
Ademais, a barreira hematoaérea separa o ar nos alvéolos e o sangue dos capilares por quatro estruturas que a compõe:
- o citoplasma dos pneumócitos tipo I;
- a lâmina basal sob essas células;
- a lâmina basal em torno do capilar;
- o citoplasma da célula endotelial do capilar;
OBS: As lâminas basais tendem-se a fundir, aumentando a difusão.
Sob essa perspectiva, o oxigênio do ar passa para o sangue e o gás carbônico, o contrário. A enzima anidrase carbônica atua nas moléculas de ácido carbônico, liberando CO² do citoplasma das hemácias
REFERÊNCIAS
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- KIA’I, N.; BAJAJ, T. Histology, Respiratory Epithelium. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK541061/. Acesso em: 10 jun. 2025.
- UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG). Histologia Interativa: Traqueia, 2021. Disponível em: https://www.unifal-mg.edu.br/histologiainterativa/traqueia-2-2/. Acesso em: 10 jun. 2025.
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- UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG). Histologia Interativa: Sistema respiratório, 2021. Disponível em: https://www.unifal-mg.edu.br/histologiainterativa/sistema-respiratorio/. Acesso em: 16 jun. 2025.
- UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS). Aula de Histologia: Sistema Respiratório [PDF]. Disponível em: https://www.ufrgs.br/auladehisto/pdf/9sistrespirat%C3%B3rio.pdf. Acesso em: 15 jun. 2025.